sexta-feira, 12 de abril de 2013

O EQUILIBRIO E A VIDA

Hoje pretendo falar de “equilíbrios”, pois a vida é feita de equilíbrios.

Os equilíbrios fazem parte da natureza, dos seres individuais, da sociedade como tal e da sua interacção.

Quando um equilíbrio se desfaz, assistimos a um cataclismo, o rompimento de uma ordem, ao aparecimento de um caos, ao desaparecimento de espécies, à ruptura de ligações.

Este equilíbrio vai do cósmico ao individuo.

O equilíbrio cósmico está para além da nossa compreensão, seja por se acreditar que é um acto de criação Divina – seja qual for a forma pela qual a entendemos - seja por nos parecer ter origem num fenómeno natural ou em qualquer “big bang”.

Tanto num caso como noutro revela-se o mais profundo do desconhecimento e a única explicação (para muitos o seu equilíbrio) é a Fé.

No primeiro caso a Fé religiosa, num poder sobrenatural; no segundo surge a fé na ciência que um dia (se Deus quiser?!) há - de encontrar uma explicação.

Esta interrogação e necessidade em perceber a nossa existência e tudo o que nos rodeia, e a inexistência de uma resposta tranquilizadora existe, seguramente, desde o princípio do Homem – e acompanhar-nos-á até ao fim dos tempos – e é a possível causadora do nosso primeiro desequilíbrio…

A explicação do sobrenatural deu origem ou é explicado pelas várias religiões, primeiro politeístas, mais tarde (muito mais tarde), monoteístas.

Já nos últimos dois milénios se procurou um equilíbrio entre a vida centrada em Deus (Teocêntrica) – que tem dado origem, nas suas versões extremas, a vários fundamentalismos religiosos; e a vida centrada no Homem (Androcêntrica), que se desenvolveu a partir do século XVIII, através do ideário jacobino, maçónico e marxista, por via de uma progressiva idolatria do positivismo científico.

Na sua versão mais extremada chega-se a ponto de desafiar Deus e de, a Ele, se equiparar.

Tem havido muitas guerras por causa disto e já se vai sendo tarde para se encontrar algum equilíbrio neste âmbito.

Vejamos, ainda, exemplos de equilíbrios que é necessário preservar, alguns dos quais estão fora da possibilidade da humana acção, como é o caso do já mencionado equilíbrio cósmico (para já…). Uma alteração neste particular pode dar origem a um cataclismo ou tempestade de tal magnitude, que pode fazer-nos desaparecer pura e simplesmente.

A força gravitacional vai-nos mantendo em posição e o “sistema” unido…

Já a nível do planeta Terra existem “equilíbrios” instáveis como seja aqueles relacionados com o Clima e a Geologia. O primeiro pode dar origem a fenómenos metereológicos extremos, enquanto o que se passa debaixo da crosta terrestre e no leito dos oceanos, pode provocar actividade sísmica, vulcânica e maremotos, algo catastróficos.

Grandes alterações no clima podem provocar mudanças radicais nas formas de vida na Terra. A “fronteira” pode ser apenas um fio ténue, como entre a morte e a vida.

A vida animal e vegetal também requer um equilíbrio vasto, um equilíbrio que passa, sobretudo, pela cadeia alimentar. Quando este equilíbrio, por alguma razão se rompe, temos fome, desertificação de habitats, extinção de espécies. É a interrupção do ciclo da vida.

Neste âmbito o grande perturbador é o homem…

Os Países relacionam-se uns com os outros através de equilíbrios geopolíticos. Quando este equilíbrio se esfarela temos crises que, não raro, acabam em guerra.

As Sociedades geram, por sua vez, equilíbrios sociais. Estes equilíbrios sintetizam-se numa palavra: Justiça.

Justiça na distribuição da riqueza, no mérito, nas relações de trabalho, nos impostos, nos sacrifícios, no exemplo, na representatividade e exercício do Poder, etc.

Quando o desequilíbrio surge e se acentua, estilhaça-se a coesão social, aumentam as tensões e, no extremo, resultará numa guerra civil.

Ao ser humano, na sua individualidade, o equilíbrio é imprescindível; este manifesta-se na relação entre as aspirações concebidas e as concretizadas; nos sentimentos desejados e os correspondidos; entre o corpo e a mente – quando há desequilíbrio adoecemos.

Finalmente o equilíbrio nas relações: quando este se quebra dá-se o divórcio, na amizade e no amor. Acompanhado ou não pelo conflito.

Só o equilíbrio mantém a Paz, a paz interior, a paz entre as pessoas, a paz entre as Nações; só a paz permite o desenvolvimento estável, tanto material como espiritual. E a harmonia da Natureza.

A uma e a outras convém que se preserve.

Por outro lado equilíbrios existem, mas pela negativa como são, por exemplo, a dissuasão pelo terror, ou os fundamentalismos que se opõem e separam.

Sem embargo. Nunca se deve esquecer Santo Agostinho: ”A Paz sem Justiça é opressão”.

O equilíbrio na vida profissional é desejável – por todas as razões já apontadas – mas tem que se precaver de tudo aquilo que possa gerar um impasse, que impeça uma resultante. A chave - aqui - chama-se organização, hierarquia, autoridade, liderança.

Tudo isto, porém pode ser utilizado para o Bem, como para o Mal, daí a importância da Virtude, da Ética e da Deontologia.

É difícil o entendimento a qualquer nível, enquanto o Bem não vencer o Mal…

Não existe nenhum compêndio com soluções escola, nem milagrosas, aplicáveis a tudo o que foi dito. É uma aprendizagem constante e tem muito mais de “arte do que de ciência”.

Nós todos (Portugal) estamos em franco desequilíbrio, e este é profundo: moral, político, económico, financeiro e social. Vamos passar por mais um teste, uma espécie de prova de fogo, o que é historicamente cíclico, também.

Podemos perecer ou viver.

A vida é uma renovação constante e nela resta a esperança da redenção, de nos reencontrarmos e encontrarmos o equilíbrio que por nossos “pecados” e falta de capacidade para aprendermos, estamos sempre a perder. Individualmente, e como povo.

1 comentário:

Anónimo disse...

A concepção da vida que o homem procurou para alcançar a felicidade desde que começou a fazer uso da razão em detrimento do sentimento, ou seja desde que a moral se impôs à sofística, prende-se com a semelhança mecânica existente entre o homem e o cosmos. No cosmos tudo funciona mediante leis, há uma ordem das coisas, há uma harmonia entre todos os componentes que assim perpetua a sua unidade. Ora, o homem também necessita de leis, de regras, não é indiferente cumprir obrigações ou negligenciá-las, não é o mesmo respeitar ou desprezar o seu semelhante. Durante a vigência do pensamento Tradicional, suportado pelo legado riquíssimo de Platão e Aristóteles, sempre se procurou uma harmonia interior e exterior com vista a integrar o homem numa posição tal cuja concordância com a sua natureza não causasse distúrbios mentais nem desordens sociais. Cada qual deveria ocupar um lugar na sociedade de acordo com os seus dons naturais respeitando o poder coeso, do trono e do altar, estabelecido responsável pelo equilíbrio nas comunidades. A sustentabilidade económica não era um problema, porque só um louco poderia pensar em consumir mais do que aquilo que era possível produzir.

Pois bem, a partir do momento em que alguém hábil na arte de produzir dinheiro percebeu que a ordem religiosa detentora de uma moral inflexível era contrária à expansão dos seus interesses, eis que a filosofia muda de rumo e eis que renasce o individualismo. Tudo o que a filosofia fez desde o Renascimento foi derrubar os valores que constrangiam o enriquecimento material individual. A cada passo que a filosofia dava, mais um mercado se abria, mais uma oportunidade de negócio surgia. O derrube de uma fronteira implicava o enriquecimento sectário a médio prazo, os descendentes dos habilidosos usuais continuavam a amontoar capitais. As fortunas que as famílias dos mestres financeiros acumulam nos nossos dias são imensuráveis, o poder económico e militar está de tal forma concentrado a nível mundial, que forçosamente, uma vez que não há oposições de peso, surgiu um pensamento único com o fim a estabelecer uma Nova Ordem, uma nova concepção de vida, também única na História Mundial.

O metacapitalismo, o poder dos super-ricos, a plutocracia internacionalista, detém a hegemonia das decisões sobre o futuro de todos os povos do planeta. Os valores que regem a vida das pessoas mudam quase diariamente, flutuam ao sabor dos interesses dos Senhores do Mundo, os novos aristocratas desconhecidos das massas extenuadas pelo excesso de informação, mas cuja informação essencial lhes está vedada.

Neste momento a dicotomia direita e esquerda, que anima as massas em torno de cores idênticas às dos clubes de futebol, não faz o mínimo sentido. A grande discussão sobre o que se passa no Mundo centra-se entre a globalização, financiada pelos pretendentes ao Trono Mundial, que visa a unificação de todos os povos regidos por uma única fonte de poder e o nacionalismo de cariz tradicional, moralista e anti-imperialista que busca uma estabilidade com base nos eternos valores.

O equilíbrio depende em primeiro lugar da sustentação, da manutenção e continuidade da vida em serenidade, neste momento o desequilíbrio interior das pessoas aliado ao desequilíbrio exterior económico e social está prestes a detonar sarilhos de nível astronómico. Preparemo-nos para o caos, já que a ganância proporcionada pelas liberdades exacerbadas não conhece medida. O microcosmo que representa o homem, já não considera o macrocosmo impulsionador da ordem universal. O microcosmo depende agora das modas sempre desactualizadas, dos caprichos da cúpula da Revolução, dos próximos boletins noticiosos e das próximas publicações que os pensadores neoliberais lacaios do poder estabelecido, financiados para dirigir populações inteiras promoverem.