quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

FORÇAS ARMADAS 1974 VERSUS 2013

Em 1974 as Forças Armadas (FAs) possuíam uma dimensão e um poder jamais atingido em 850 anos de História (o que não voltará a repetir-se…), estavam espalhadas por quatro continentes e outros tantos oceanos e combatiam, vitoriosamente, em três teatros de operações diferentes.

O problema maior com que se confrontavam, era a falta de oficiais do quadro permanente, derivada da rarefação de candidatos às Escolas Superiores Militares. Sobretudo no Exército e Força Aérea. Esta falta foi-se agravando desde meados dos anos sessenta e agravada por causa do sempre crescente aumento de efectivos, pela morte e incapacidade de alguns e pela saída do serviço activo, de outros.

Agravava a situação a lassidão e o cansaço que o tempo prolongado da guerra causava nos quadros militares. [1]

A situação era especialmente preocupante nas classes de capitães e subalternos (e já se fazia sentir nos sargentos).

Ora sem oficiais não se consegue manter um Exército de pé. Pelo menos com a qualidade necessária a qual, fatalmente, irá degradar-se continuamente.

O Governo, de então, reagiu tarde e não conseguiu ou não quis, resolver o problema.

As tentativas efectuadas foram lentas, deram poucos resultados e foram inábeis ao ponto de se publicar o Decreto – Lei 353/73 de 29 de Junho.[2] Este diploma causou muito mal-estar nas fileiras e espoletou a revolta activa, numa pequena percentagem da oficialidade.[3]

Tal revolta desembocou no golpe de estado ocorrido em 25 de Abril de 1974, com um “incidente” - nunca devidamente explicado - uns dias antes, a 16 de Março.

O resto do país vivia calmamente com alguns focos de instabilidade nas universidades, aquando de eleições e uns atentados à bomba por grupos de extremistas comunistas e de extrema-esquerda.

A economia crescia a 7% ao ano (no Ultramar era mais) e crescia de forma harmónica e sustentada. O escudo era uma das moedas mais fortes e respeitadas do mundo e não havia desemprego.

As condições sociais melhoravam paulatinamente à medida que as condições financeiras o permitiam.

A abertura política era um facto, as forças totalitárias eram diminutas e estavam contidas e o capitalismo selvagem impedido de ultrapassar a fronteira. A maioria dos governantes tinha currículo e era gente séria, não vendida a interesses estranhos ou ao Deus “mamon”. A corrupção não estava erradicada mas estava contida e era combatida.

E, acima de tudo, mandava-mos na nossa casa e tínhamos uma capacidade apreciável de influenciar o nosso destino.

Mesmo assim as FAs fizeram um golpe de estado - de que logo perderam o controlo - aproveitando a inabilidade do governo e o cinismo maquiavélico de um general e a vaidade (que lhe terá embotado o senso) de outro. Ambos com protagonismo forjado nas suas carreiras.

O resto é conhecido, embora muito mal contado.

Em 2013 não há guerra nas nossas fronteiras (apesar de nos últimos anos se terem já enviados mais de 30.000 militares portugueses para cerca de 30 cenários de conflito ou de cooperação técnico-militar, muitos dos quais de interesse duvidoso) vive-se uma situação “normal”, sem qualquer interferência das FAs na condução da política do país, sem alteração da ordem pública e sendo tudo conduzido democraticamente (ou havendo a ilusão disso), o país entrou em recessão económica e descalabro financeiro contando-se já três resgates financeiros o último dos quais transformou o país numa espécie de protectorado sem fim à vista.

O desconchavo social e moral é grande e a prova mais perigosa disso é o suicídio colectivo em que estamos postos, já que tudo aponta para o fim da “raça” dos portugueses…

Estrou-se, estouvadamente, para uma coisa que parecia um clube de ricos, que nos privou da moeda e a que nos submetemos como cordeiros a caminho do matadouro e onde não mandamos nada.

O desregramento e a corrupção espalham-se infrenes e onde a vida política decorre com pouca elevação e os partidos políticos se transformaram, basicamente, em agências de empregos, sem categoria alguma.

Nos poucos intervalos da “guerra civil” permanente em que vivem uns com os outros e dentro de si, para ver quem manda e quem vai para o poder, tentam fingir que tratam dos assuntos da governação enquanto garantem o usufruto para a vida e viajam constantemente. Afinal o mundo globalizou-se…

Pelo meio entretiveram-se a destruir todo o poder nacional e a subverter os pilares institucionais da Nação. Entre estes está a Instituição Militar.

Tal se passou sem que se entendesse qualquer alerta da sua parte – como era seu dever.

A quantidade de barbaridades a que as FAs têm sido sujeitas é dantesca. E, note-se, tal acontece quando estas estão “pacificadas” e “civilizadas”, são competentes e, no mais, patriotas.

Ora tudo o que se tem passado, nestas últimas décadas, faz parecer as razões que levaram a depôr os órgãos de soberania, em 1974, uma brincadeira de juvenis (recordamos que o país estava em guerra – embora de baixa intensidade – e que as consequências do golpe de estado foi a de a termos perdido ignominiosamente e de a Nação ter sido amputada, sem lustre e com vergonhas muitas, de cerca de 95% do seu território e 60% da população – sim ela era portuguesa…).[4]

E com uma agravante assinalável – a das intenções – o que se conta em duas penadas:

Em 1974 a Instituição Militar estava prestigiada e era defendida pelo poder político ao ponto de ninguém, nas fileiras, sentir minimamente a necessidade de cuidar da sua imagem (nem a “Censura” permitia que se dissesse mal dos militares).

Em 2013 a imagem mediática e social e a defesa institucional das FAs é a que todos conhecemos e anda pelas ruas da amargura.

Em 1974, independentemente dos erros cometidos relativamente ao modo de melhorar o recrutamento – em que os principais responsáveis acabaram por ser dois militares (o MDN, general Sá Viana Rebelo e o CEMGFA, general Costa Gomes), que impediram a colocação dos oficiais oriundos de milicianos num quadro próprio onde seriam promovidos sem interferirem com os oficiais do quadro permanente oriundos da Academia Militar e Escola Naval – fizeram-no, estou em crer, de boa mente, numa tentativa de resolver um problema gravíssimo que afectava, directa e negativamente, as operações militares em curso.

Tão pouco lhes passaria pela cabeça qualquer intenção de prejudicar fosse quem fosse, muito menos o de diminuir a honorabilidade ou a eficácia da IM.

Em 2013 a quantidade de barbaridades feitas às FAs e os ultrajes à IM e aos militares atingiram níveis inauditos e continuados no tempo. E dou um doce a quem provar haver alguma boa intencionalidade no desbaste efectuado e que vai continuar até que a IM seja apenas uma recordação histórica.

Em 1974, uma pequena parte das FAs deitou o regime abaixo – com a complacência da maioria e a “ultrapassagem” do topo da hierarquia.

Em 2013 a hierarquia militar não tem sido capaz de levantar um dedo que seja, em defesa da Instituição – que é também a da defesa do país. Também com a complacência da maioria.

Em 1974 a ameaça maior à Nação vinha de forças marxistas e internacionalistas dentro e fora das nossas fronteiras; em 2013 essa ameaça maior deriva, outrossim, de forças internas e externas, mas agora de âmbito financeiro capitalista e apátrida, e também internacionalista.

Mas ambas estavam já presentes em 1974, do mesmo modo que estão presentes em 2013.

Incomodo hoje os leitores com estas observações por as achar, no mínimo, curiosas.


[1] Em boa verdade invocar o “cansaço” das operações militares, em militares do quadro permanente, não é, em teoria, argumento para justificar qualquer situação menos apropriada. Mas é sabido que, na prática, tal a acontecer não deixa de provocar efeitos no Moral. O que necessita ser aferido constantemente.
[2] Este decreto previa que os oficiais milicianos pudessem frequentar um curso abreviado na Academia Militar e serem promovidos a oficiais do quadro permanente com a antiguidade da sua promoção a alferes. Ora tal, a verificar-se, iria provocar a ultrapassagem de todos os capitães, e alguns majores, licenciados por aquele estabelecimento de ensino.
Este decreto – lei tem alguns antecedentes que são importantes para a cabal compreensão do que se passou, mas que não se referem para economia de texto.
[3] Nunca contabilizada, mas que se estima em não mais de 3%. Curiosamente a classe de sargentos esteve ausente em quase tudo o que ocorreu.
[4] E sem nunca lhe terem perguntado nada. Tudo muito democrático e conforme ao Direito…

13 comentários:

Anónimo disse...

"Em 1974 a ameaça maior à Nação vinha de forças marxistas e internacionalistas dentro e fora das nossas fronteiras; em 2013 essa ameaça maior deriva, outrossim, de forças internas e externas, mas agora de âmbito financeiro capitalista e apátrida, e também internacionalista."

Quem domina ambas?Judeus..
De que ascendência são os "pais" da democracia,balsemão e soares?Judeus...
Quem controla os média e consecutivamente a opinião publica?
Judeus...
A maçonaria guia-se essencialmente por quê?Pela cabala,talmud e pelo misticismo judaico.
Quem controla os partidos?A maçonaria...
E quem controla a maçonaria?Judeus...

O problema mais que meramente político é etnico.
Há um grupo etnocentrico que conspira contra nós e nos sabota por dentro.

E só um golpe militar nacionalista pode travar a morte de Portugal e a escravidão do seu povo.

O resto são histórinhas da carochinha...

Em 74 acredito que muitos militares foram ingenuamente enganados pelos soares e balsemãos devido à sua imaturidade política e ingenuidade.

Presentemente não há desculpas,a informação existe e é facilmente acessível.

A defesa da democracia e a defesa da Pátria é um paradoxo legal e comportamental pois a democracia destroi a Pátria e por isso não se pode defender a democracia e ao mesmo tempo defender a Pátria.

Mas há muitos militares,principalmente chefias que gostam de fazer a "esparregata".

Mas não há meio-termo nestas coisas.
Ou se está a favor da democracia...
Ou se está a favor da Pátria.

silviasantos2323 disse...

»Em 1974, uma pequena parte das FAs deitou o regime abaixo – com a complacência da maioria e a “ultrapassagem” do topo da hierarquia.

Em 2013 a hierarquia militar não tem sido capaz de levantar um dedo que seja, em defesa da Instituição – que é também a da defesa do país. Também com a complacência da maioria.»


Será que uma comparação entre o número de Generais que havia em 1974 e o número de Generais que existe em 2013, número esse que, segundo se comenta por toda a parte em Portugal, em proporção relativamente à dimensão das forças armadas, terá aumentado umas 30 vezes desde o 25 de Abril, ajuda a explicar o silencio e a complacencia da hierarquia militar a que alude? Ou será que não há qualquer relação entre as duas coisas?

Anónimo disse...

Como alguém afirmou "Pior que o ruído dos maus é o silêncio dos bons"
O tempo tem tempo, senhor tenente coronel Brandão. No 25/04 o generalato ficou subordinado às ordens dos capitães. Vamos ver se algum dia os oficiais não se subordinarão à indignação dos sargentos.
Cumprimento cordial
David Pinto

Ricardo disse...

Não incomoda nada(a não ser a alguns ignorantes e traidores)só é pena e mau para o país que não se enfrente o problema de uma vez.Fomos todos traídos e enganados por ideologias(e por mercantilistas também) estrangeiras e os militares(não todos)caíram no mesmo engodo.

Anónimo disse...

Estou de acordo em quase tudo meu caro Ten. Coronel. Infelizmente, é verdade que no tempo do antes do «25 de Abril» os ministros não eram corruptos, até porque como o senhor diz, o sistema não lhe dava essa hipótese. Recordo-me do meu pai, anti-salazarista, chegar uma vez a casa e dizer à minha mãe: «Desta vez tiro o chapéu ao Salazar, soube que um colega meu, de Coimbra, que era Secretário de Estado, foi demitido pelo Salazar, porque, usou da sua influência para colocar num "tacho" um amigo»... Isto hoje era impossível! Basta olhar para casos de Freeport, BPN, etc... Um abraço. António

Ide levar no déficite ide disse...

Traindo dores e traidores várias, os escândalos da manutenção militar nunca foram sequer tocados por nenhum destes senhores muito cultos e nada ignorantes, pelo menos desde que o capitão Loureiro perdeu a guerra das batatas.
E nem vale a pena falar de ADM's e ADME's várias e hospitais militares cheios de viúvas e generais Salavisa's velhinhos e gotosos e desgostosos.
Já para não falar de generais aposentados, que após sentados no orçamento das pensões, comandam a GNR's vários que os tratem por general e quiçá lhes retirem as multas sob pena de serem processados por insultarem um superior, na reserva ou na aposentação ou no activo tanto nos faz.

Ultramar Naveg disse...

... é universalmente conhecido, que o 25A teve origem em barrigas e não em espíritos, posto o que as "forças" se desarmaram... "by themselves, longtime ago".

Anónimo disse...

Concordo completamente com o artigo de V.Exa., sem embarguo de discordar do "coleetivo", em vez de "colectivo"

Ide levar no déficite ide disse...

Acho positivo que haja um general por companhia, em caso de mobilização geral, arranja-se logo um regimento para cada general e um batalhão a dividir por três coronéis e tenentes coronéis.
Como dizia o Vasco Gonçalves na comezaina da Costa da Caparica em 1973, a arma da engenharia tem um quadro de oficiais que não é compatível com a sua missão.
Cada um defende os seus, um bando de ex-polícias militares da secreta iraquiana e uns centos de beduínos mal armados mobilizou quase uma divisão nos idos de 200?
É um país velho, com menos de 30 mil recrutas a nascerem por ano para o SMO...

Batalhão de Caçadores- Pedra Verde disse...

E manter na reserva, quadros que excedem qualquer efectivo militar passível de ser mobilizado é:

a)Corporativo?
b)Ineficaz do ponto de vista económico e logo impede a libertação de verbas para a operacionalidade de unidades mais pequenas que como as últimas intervenções Euro-americanas mostraram são mais eficazes e oferecem menos alvos às minas

Guerras por telecomando estão para durar
Ocupar o terreno não é muito aconselhável com a demografia decrescente da europa...

the revolution of not-yet disse...

A maior ameaça é uma economia anémica, viciada na importação energética e de maquinaria para uso civil e militar sem nenhuma vantagem para a amortização da dívida ou mesmo para a auto-sustentação nacional.
Já nos três oceanos, índico, atlântico e marginalmente no pacífico, as forças portuguesas derrotadas na índia e parcialmente derrotadas no terreno na guiné bissau, perdiam lentamente o norte de moçambique mau grado a desporporção de forças a tender para o lado português e em Angola os 30 anos de guerra civil e o milhão de mortos provam que era uma vitória breve e localizada temporalmente e geograficamente, mas aceitam-se as crenças alheias.

Anónimo disse...

Fevereiro de 1974 versus Fevereiro de 2013: chefias militares totalmente solidárias com os governantes da república que juraram defender.
D.Pinto

afonso disse...

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=3076661#.US3Gl1wQN50.facebook desemprego real não solidário