segunda-feira, 4 de julho de 2011

DIA UM, DO MÊS UM, DO ANO UM, DA “TROIKA”

Façamos um exercício simples:

Emprestaram-nos (FMI e BCE – não é a mesma coisa), 78 mil milhões de euros, tendo o país respirado (aparentemente) aliviado. Campanha eleitoral para lá, “fait divers” para acolá, deram-nos mais uns 90 dias de folgança. Agora, com governo novinho, é preciso traduzir, em coisas práticas, o acordado por cima e por baixo da mesa.

Valeu a pena o alívio? Temo bem que não.

Primeira questão: os 78 biliões vão servir para quê? Pois, parece, que para pagar dívidas, juros das mesmas e resolver problemas de tesouraria, nomeadamente, para não deixar os funcionários públicos sem vencimento no fim do mês.

Segunda pergunta: se da quantia emprestada não se retirar um níquel para investimento, que nos permita uma mais valia futura, como vamos conseguir pagá-la no futuro (mais os seus juros)? A resposta óbvia é de que não iremos conseguir pagar, o que resulta em que, aquilo que nos “ofereceram” a juros leoninos, apenas vai comprar tempo em termos de evitar a bancarrota. E juntar mais dívida àquela que já tínhamos.

Parece um excelente negócio… mas não para nós.

Terceira questão: o empréstimo não foi feito depois de se ter garantido uma quantidade de medidas para reduzir os gastos do Estado e poder relançar a economia? Foi, de facto, feito nessa condição. Mas, para o acordo ter um mínimo de sucesso, é necessário ter um plano estratégico para o País. Esse plano estratégico, faseado no tempo e em prioridades, a existir, é do desconhecimento de todos.

A única coisa que se sabe é de aumentos generalizados, a torto e a direito, e ainda sem contemplar cortes sérios nos principais sorvedouros de dinheiro – e onde dói aos políticos – a saber: Presidência da República; Assembleia da mesma (incluindo subsídios aos partidos…), gabinetes ministeriais; Parcerias Público – Privadas; gestores de empresas públicas; autarquias e governos regionais; empresas autárquicas, fundações; fugas de capitais para paraísos fiscais e impostos a pagar pelos bancos.

Continua-se a castigar a classe média e os pobres (e alguns ricos que não fogem aos impostos), ao mesmo tempo que se insiste, em subsidiar quem não quer trabalhar, se droga, quer abortar, se torna pária da sociedade, etc.

Mutilam-se gravemente todas as entidades que ainda nos preservam o que resta da soberania, o que trará gravíssimas consequências futuras.

Para além disto pensa-se privatizar tudo, o que nos vai despir de todos os anéis e alguns dedos, impossibilitando a sua recuperação futura (já Salazar teve que nos descolonizar economicamente dos ingleses…), e vendendo-as por tuta e meia dadas os expressivos passivos existentes, na maioria, e o mau momento para o fazer. Mais uma “dávida” aos credores…

Algumas das coisas pensadas só podem ser fruto de uma doença prolongada em fase terminal, como a ideia peregrina de quererem privatizar a água!

Ora duvidamos o mais possível – pois não há contas credíveis – que de todo este “esforço” financeiro, resulte algum investimento que permita deixarmos de importar cerca de 80% do que comemos; manter algumas indústrias competitivas, evitar a destruição de toda a construção naval; relançar as pescas e para  fazer de, tudo um pouco, do que fizemos nos últimos 30 anos e que só serviu para destruir o Poder Nacional. E tudo isto com a mais despudorada incompetência e aviltante alegria, sem que seja possível imputar a um simples “cabo quarteleiro” a responsabilidade seja do que for.

Mesmo que o governo estivesse munido das melhores sapiências e boas intenções não poderia lançar as bases de nada, pela simples razão que ninguém (ainda) deve saber o verdadeiro estado das finanças depois da orgia do descontrolo dos gastos durante anos a fio.

O apagão criminoso das informações contidas nos computadores ministeriais, feito pelo anterior executivo, diz muito sobre muitas coisas.

A facada no 13.º mês, mais o imposto extraordinário, inventado após uma noite de insónia, são disto a prova e a consequência. Mas mais virão.

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