terça-feira, 26 de outubro de 2010

OS POLÍTICOS PODEM MENTIR, OS GENERAIS ESPERA-SE QUE FALEM VERDADE…

O título pode sumarizar o que mais importante se disse no muito actual debate relativo às relações entre a NATO, a UE e a Rússia, que ocorreu no Instituto de Defesa Nacional, no pretérito dia 22 de Outubro.

De facto, nada de relevante a assinalar, tudo muito politicamente correcto, muitas verdades ausentes e quase nenhumas pistas para o futuro…

A síntese que o título encerra deriva de uma pequena história que um dos palestrantes, o general inglês David Leaky contou à laia de introdução a fim de despertar alguns sorrisos na assistência, arte que os anglo-saxónicos dominam na perfeição.

O que é um facto, é que aquilo que ele trouxe à colação com uma ironia típica do humor britânico é a mais pura da realidade: aos políticos “compreende-se” e “desculpa-se” que mintam (faz parte do jogo e da luta política…) e espera-se que os generais falem verdade.

Só que isto é uma realidade cheia de equívocos…

Aceitar que os políticos mintam é um mau princípio que não devia ser tolerado. É assim que as pessoas e os regimes se desacreditam e passa a imperar o reino do faz de conta. É assim que se chegam às actuais crises…

Por outro lado, esperar que os generais falem verdade num sistema destes é não ter a mínima ideia de como funciona a natureza humana. Como é que um general que é nomeado e destituído por quem mente, pode alguma vez dizer a verdade? Se o fizer publicamente, será de imediato exonerado; se o fizer no recato dos gabinetes ou em documentos classificados, resulta uma perda de tempo e não se livra de uma exoneração próxima ou ficar com a carreira prejudicada.

Se quiser “partir a loiça” teremos uma disrupção no sistema, o que resulta, normalmente, ser o general triturado pelo sistema. Se assim não for poderemos acabar num golpe de estado; coisa improvável de acontecer… no dia a dia actual.

Dois factos merecem referência, um “normal” e outro insólito. Este último teve a ver com a insistência de algumas assistentes em formularem perguntas em inglês e até uma professora de Coimbra ter feito a sua palestra nessa mesma língua. Ora tal sucedeu, havendo tradução em simultâneo… Tais ocorrências foram verberadas – e bem – por um senhor que não fixei o nome, que manifestava a sua indignação dizendo que estávamos em nossa casa, tínhamos língua própria e ainda não éramos protectorado de ninguém… (nesta última questão é que ele começa a estar equivocado…). Não custa nada ao IDN emendar a mão neste âmbito.

O que já se pode considerar “normal” foi o facto das perguntas que um membro da plateia – cuja modéstia não me permite dizer o nome – fez (o exagero de quatro), terem sido ignoradas as três primeiras e contornada a última…

De facto tendo os três componentes de um painel feito a defesa da necessidade de reforçar os laços da Democracia entre ambos os lados do Atlântico Norte (e veladamente a sua expansão ao planeta…), fiz notar que a Democracia era apenas um sistema político e não um fim em si mesmo e que entre os seus vícios se conta a demagogia (e outros) o que pode fazê-la derrapar para situações em que seja posta em causa, sendo a questão a de saber se se deve apostar na defesa do sistema ou na melhor escolha das pessoas que o vão servir.

Tendo aprendido que os militares devem ser claros, precisos e concisos para se fazerem entender (sobretudo entre eles!...), devo ter pecado neste âmbito, pois pareceu-me que o ilustre painel entendeu ou quis entender, tudo ao contrário, enredando-se dois deles em citações político-filosóficas, tendo uma terceira limitado a abanar a sua bem penteada cabeça e aos costumes dito nada. Grandes democratas!

Finalmente, o Dr. Marques de Almeida, que é conselheiro do Dr. Durão Barroso, começou a sua intervenção dizendo: “Não há dinheiro…”.

Achei curiosa esta afirmação.

Eu julgava que o dinheiro não desaparecia, isto é, o dinheiro que tem o seu valor facial respaldado em metal sonante, ou em bens produzidos, já que o dinheiro virtual, que inventaram, corre de bolsa em bolsa e de teclado de computador para teclado de computador, pelo mundo inteiro. Saber distinguir a moeda virtual da verdadeira e por onde anda cada uma, é que cada vez é mais difícil de saber. Agora, o dinheiro existe, não desapareceu…

Gostaria de fazer um pedido ao Dr. Marques de Almeida e que é este: que tranquilizasse o Dr. Durão Barroso, que eu, cidadão português subscritor destas linhas, certifico, por minha honra, que relativamente ao dinheiro que não aparece, ou falta, eu não fiquei com nenhum, salvo aquele que, por enquanto, ainda depositam relativo à pensão que legalmente (julgo eu), estabeleceram.

O Senhor Ministro da Defesa encerrou o dia, fazendo uma síntese do que pensa. Já saiu nos jornais.

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